sábado, 14 de setembro de 2013

Errado - porque nem tudo tem dois ou mais pontos de vista!

4:30 da manhã, acordo. Sensação de insegurança. Ando pela casa, portas e janelas fechadas. Água. Cama. Sonolenta, as sombras se mexem, é desagradável. Relembro o dia. Chato, repouso recuperando de uma dor no útero. A noite, peça com os amigos. Amigos no palco, amigos na platéia. Bons lugares. Ao meu lado esquerdo uma amigona e mais 2 pessoas. Do lado direito 4 desconhecidos. Começa o espetáculo, eu estou curiosa. O homem ao meu lado não, ele está concentrado nas minhas pernas - tentando ser discreto. Desconforto. Sensação de insegurança. Pego minha mochila no chão e coloco sobre as pernas, retiro o programa do espetáculo e folheio como se quisesse verificar alguma informação, fazendo uma cena pra me proteger sem que ele me chamasse de louca, uma cena ridícula. Me vi atuando e presa. Pra sair, além de incomodar o público que se concentrava, incomodaria os atores porque o teatro era pequeno... e eles me conhecem! Eu sou atriz, um deles foi meu aluno na faculdade de teatro, outra foi da minha turma, a diretora foi minha colega professora. O lugar no mundo onde eu me sinto melhor é no teatro. Cabeça girando. De repente a peça passa a ser mais interessante do que eu, uma das atrizes fica sem a parte de cima do vestido com os seios a mostra. Uma longa cena onde ela é manipulada assim por um homem. O infeliz do meu lado olha sempre com o canto do olho a minha coxa entre a mochila e o banco, cabeça pra frente e todo o corpo virado pra mim. Nem precisava ter estudado o movimento do corpo ou preparado tanto elenco pra entender bem o que esse corpo falava.
Por volta dos 30, loiro, grande. Se eu saio pela direita tenho que obrigatoriamente esbarrar nas pernas dele ou atrapalhar mais pessoas pelo outro lado. Na peça, que eu já não estava acompanhando, uma bunda de homem e uma calcinha tirada por baixo de um vestido. A mão do corpo que estava inclinado pra mim foi pra sua virilha. Chega! 
Cochichei no ouvido da amiga:
- Eu vou sair daqui!  
- Fica aí, tá loca? 
Ponderei meio segundo:
- Esse cara tá me dando nojo. 
Saí.

Saí tremendo, me sentindo mal, incapaz.
Tudo isso foram 15, no máximo 20 minutos.
Passei o resto da peça conversando com a produtora que foi minha professora de maquiagem e com o cenógrafo que foi também meu aluno. Ambos me confortaram enquanto cuidavam do filho de 2 anos de uma das atrizes. Uma criança linda.

Foi muito feliz encontrar pessoas queridas no teatro, abraça-las, colocar a conversa em dia, foi bom conhecer uma criança linda. Mas na madrugada e nos meus sonhos não foi essa a sensação que me perseguiu.

Qualquer mulher, por ser mulher, pode virar um objeto em segundos. Pode ser invadida na intimidade da sua casa, do seu corpo e isso é errado. Precisamos cuidar melhor uns dos outros, nos educar.